sábado, 5 de setembro de 2009

Estirpe

Os mendigos maiores não dizem mais, nem fazem nada. Sabem que é inútil e exaustivo. Deixam-se estar. Deixam-se estar.Deixam-se estar ao sol e à chuva, com o mesmo ar de completa coragem,longe do corpo que fica em qualquer lugar.Entretêm-se a estender a vida pelo pensamento.Se alguém falar, sua voz foge como um pássaro que cai.E é de tal modo imprevista, desnecessária e surpreendenteque, para a ouvirem bem, talvez gemessem algum ai. Oh! não gemiam, não... Os mendigos maiores são todos estóicos.Puseram sua miséria junto aos jardins do mundo felizmas não querem que, do outro lado, tenham notícia da estranha sorteque anda por eles como um rio num país. Os mendigos maiores vivem fora da vida: fizeram-se excluídos.Abriram sonos e silencios e espaços nus, em redor de si.Tem seu reino vazio, de altas estrelas que não cobiçam.Seu olhar não olha mais, e sua boca não chama nem ri. E seu corpo não sofre nem goza. E sua mão não toma nem pede.E seu coração é uma coisa que, se existiu, já esqueceu.
Ah! os mendigos são um povo que se vai convertendo em pedra.
Esse povo é que é o meu.

Cecília Meireles

2 comentários:

  1. Grande Severino! Quem lhe escreve é Bruno, filho do Tim. Corremos juntos algumas poucas vezes na rua. E lembro da história que você me contou, quando vocês dois fizeram uma matéria, se não me engano, no Pico da Pedra Branca, para registrar o local, no Rio, onde se sabe temperatura mais baixa. Tomei a liberdade de fazer uma visita por aqui e gostei muito do blog. Copiei o link e "chamei" o endereço na minha morada virtual. Depois dá uma conferida! Escrevo alguns contos e poesia. Se tiver paciência (risos) dá uma acessada.
    Grande abraço pra ti! Sou seu fã.

    Bruno

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  2. Faltou o link: http://amoladafaca.blogspot.com/

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